O que é o Covid-19?
Covid-19 também conhecido por SARS-CoV-2 (Síndrome Respiratória Aguda Grave – Coronavírus 2) é um vírus de RNA [1]. A comparação bioquímica e estrutural do Covid-19 com outros coronavírus permitiu concluir que este optimizou a sua ligação ao receptor ACE2 (receptor da enzima de conversão da angiotensina 2) que, por sua vez, leva à internalização do vírus para o interior das células humanas [1, 2]. Fisiologicamente, o receptor ACE2 (expresso na membrana das células do pulmão, coração, rins e intestino) é responsável pela maturação da angiotensina, uma hormona responsável pelo controlo da vasoconstrição e da pressão sanguínea [3, 4].
Quanto tempo é capaz o vírus de se manter estável?
No “New England Journal of Medicine” foi publicado recentemente um estudo científico sobre a estabilidade do Covid-19 no qual o vírus foi aplicado através de aerossóis (com uma carga viral controlada) em cobre, papelão, aço inoxidável e plástico, mantidos entre 21 e 23 °C e 40 % de humidade relativa ao longo de 7 dias.
Figura 1 – Estabilidade do vírus Covid-19 (vermelho) e estabilidade do vírus SARS-CoV-1 (azul, vírus que causou a pandemia de SARS em 2003) em diferentes materiais. Copper: Cobre; Cardboard: Papelão; Stainless Steel: Aço inoxidável; Plastic: plástico. Adaptado de [5].
O estudo indica que:
O Covid-19 é mais estável em plástico e aço inoxidável do que em cobre e papelão: vírus viáveis foram detectados até 72 horas após a aplicação nessas superfícies (Figura 1) embora a “quantidade” do vírus tenha sido bastante reduzida.
Mais precisamente:
- No cobre, nenhum Covid-19 viável foi detectado após 4 horas
- No papelão, nenhum Covid-19 viável foi detectado após 24 horas (1 dia)
- No aço inoxidável, nenhum Covid-19 viável foi detectado após 48 horas (2 dias)
- No plástico, nenhum Covid-19 viável foi detectado após 72 horas (3 dias).
Importa salientar que estas conclusões implicam que, nos períodos de tempo anteriores aos limites descritos, para cada material, amostras de Covid-19 foram ainda detectadas apesar da respectiva carga viral ser mais reduzida quando comparada com o valor inicial.
O estudo apresenta igualmente a comparação entre o Covid-19, (em vermelho) e o retrovírus mais semelhante, capaz de infectar humanos, SARS-CoV-1 (em azul). Os autores descrevem que a diferença de estabilidade entre os vírus não é significativa sugerindo que o problema epidemiológico que se está a verificar com o Covid-19está relacionado não só com a sua estabilidade (que, ainda assim, permanece como um dos grandes focos de preocupação), mas também com outros factores levando a duas hipóteses:
- altas cargas virais de Covid-19 no tracto respiratório superior (em relação ao anterior SARS-CoV-1)
- alto potencial de transmissão de Covid-19 por pacientes assintomáticos ou com sintomas muito ligeiros (não considerados como estando doentes)
Quais os sintomas despoletados pelo Covid-19?
Figura 2. Sintomas e temperatura máxima corporal, de acordo com o dia de doença e o dia de hospitalização, do primeiro caso de Covid-19 reportado nos Estados Unidos da América. Fever: Febre; Cough: Tosse; Rhinorrhea: Corrimento de nariz; Fatigue: Fadiga; Nausea: Náuseas; Votiming: Vomitar; Diarrhea: diarreia; Abdominal Discomfort: Desconforto abdominal. Adaptado de [6].
A Figura 2 representa o primeiro caso de coronavírus descrito nos EUA. Neste estudo, os autores descrevem a identificação, diagnóstico, curso clínico e tratamento do caso incluindo os sintomas leves iniciais do paciente na apresentação com progressão para pneumonia no dia 9 da doença [6].
De notar que este é só um exemplo e que a progressão da doença pode ser diferente de indivíduo para indivíduo.
Figura 3. Sintomas de indivíduos positivos para Covid-19 em Portugal recolhido pelas identidades portuguesas. Fonte: https://covid19.min-saude.pt/ponto-de-situacao-atual-em-portugal/ [consultado a 19 de Março 2020]
Em Portugal, as autoridades locais têm vindo a recolher os sintomas descritos pelos indivíduos positivos para Covid-19 (Figura 3) [7]. Como podemos ver na Figura 3, a maioria dos pacientes descreve como primeiro sintoma a tosse seca imediatamente seguida da febre. Como descrito pela OMS (Organização Mundial de Saúde), cerca de 80% das pessoas infectadas é capaz de recuperar sem a necessidade de tratamento hospitalar [8]. Contudo, a OMS aponta pessoas idosas e pessoas com tensão alta, problemas cardíacos, diabéticos e imunossuprimidos como indivíduos de alto risco tendo maior probabilidade de desenvolver sintomas graves [8].
Podem pessoas assintomáticas transmitir a doença, ou seja, transmitir o vírus Covid-19?
Figure 4. Tempo de exposição de diferentes pessoas a pessoas infectadas, o tempo que demoraram a ter sintomas e que testaram positivo para Covid-19 (descrito no gráfico como “Positive PCR”). Adaptado de [9].
Na Figura 4, está descrito o estudo de uma linha de transmissão na Alemanha. Um indivíduo que fez uma deslocação entre a China e a Alemanha, onde participou em reuniões de trabalho, e que só desenvolveu sintomas quando regressou à China. Contudo, contaminou as pessoas com quem contactou na reunião na Alemanha (ainda em período assintomático). Note-se que os sintomas foram apenas reportados pelos diferentes indivíduos alguns dias após o primeiro contacto. Além disso, o paciente 1 foi o elo de transmissão para os pacientes 3 e 4. Em outro estudo, foi também descrito que um paciente assintomático testou positivo para Covid-19 (Figura 5). Estes estudos demonstram, pois, que indivíduos sem sintomas podem transmitir Covid-19 para outros indivíduos servindo de argumento para as recomendações das autoridades de Saúde Pública de todos os países sobre a restrição do contacto social de modo a diminuir a propagação deste vírus.
Figura 5. Acompanhamento de pessoas que embarcaram em um voo de evacuação de Wuhan, China, para Singapura. Adaptado de [10].
O que quer dizer achatar a curva?
Como vários especialistas têm vindo a público explicar, achatar a curva quer dizer reduzir o número de casos positivos ao mesmo tempo permitindo aos hospitais ser capazes de responder a casos urgentes sem sobrecarga (Figura 6). Porque é que isto é importante? Se o número de casos não escalar (curva azul em comparação com a curva vermelha), o número de doentes em estado crítico em simultâneo será menor, o que quer dizer que vamos ter profissionais de saúde e equipamento disponíveis para estes casos críticos (algo que não acontecerá se toda a gente adoecer em simultâneo).
Figura 6 – Gráfico ilustrativo “achatar a curva”. Without protective measurements: Sem medidas preventivas; With protective measurements: Com medidas preventivas; Healthcare system capacity: Capacidade do Sistema Nacional de Saúde; Number of cases: Número de casos; Time since first case: Tempo após o primeiro caso. Adaptado de CDC/The Economist.
É o Covid-19 um vírus produzido em laboratório?
Um artigo científico publicado recentemente fez a comparação do genoma do Covid-19 (ou seja, do seu “cartão de cidadão”) com outros coronavírus demonstrando que o Covid-19 NÃO é um vírus manipulado em laboratório [11]. O Covid-19 tem aproximadamente 80% de semelhanças com o SARS-CoV-1 e 96% de semelhanças com o coronavírus de morcego BatCoVRaTG13 [1].
Quais os websites onde posso encontrar informação fidedigna sobre o Covid-19?
Em Português:
- O site da direção geral de saúde: https://covid19.min-saude.pt/
- Entrevista à investigadora Maria João Amorim, virologista do Instituto Gulbenkian de Ciência: http://quarentaecincograus.libsyn.com/especial-covid-19-maria-joo-amorim-que-vrus-este-e-como-se-comporta
Em inglês:
- The New England Journal of Medicine, que tem agora dedicado uma parte do seu website ao Covid-19: https://www.nejm.org/coronavirus
- OMS (Organização Mundial de saúde) também tem uma porção do seu site dedicada ao Covid-19 (com perguntas & respostas) em inglês https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019/global-research-on-novel-coronavirus-2019-ncov
- Coursera é uma plataforma de cursos online. Tem neste momento o curso: “taking Science Matters: Let’s Talk About COVID-19” dado por especialistas do Imperial College em Londres, um dos top instituos de saúde pública no mundo https://www.coursera.org/learn/covid-19?utm_medium=email&utm_source=marketing&utm_campaign=tIo98GlqEeqd_xFKDENJkw
- Um Webinar será feito no dia 2 de Abril com Médicos e cientistas, descrevendo o Covid-19 https://www.labroots.com/ms/virtual-event/coronavirus
- https://www.youtube.com/watch?v=BtN-goy9VOY
REFERÊNCIAS:
[1] https://www.nature.com/articles/s41586-020-2012-7
[2] https://science.sciencemag.org/content/early/2020/03/03/science.abb2762.full
[3] https://www.ahajournals.org/doi/10.1161/01.RES.87.5.e1
[4] https://www.biorxiv.org/content/10.1101/2020.01.26.919985v1.full
[5] https://www.nejm.org/doi/10.1056/NEJMc2004973
[6] https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa2001191
[7] https://covid19.min-saude.pt/ponto-de-situacao-atual-em-portugal/
[8] https://www.who.int/news-room/q-a-detail/q-a-coronaviruses
[9] https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMc2001468?query=featured_home